No banco traseiro de um carro de luxo, Enrico Rico, de 22 anos, segura sua bolsa Louis Vuitton avaliada em R$ 17 mil. Enquanto aguarda seu motorista, ele planeja o fim de semana no iate da família. Estudante de medicina na São Leopoldo Mandic, em Campinas, onde as mensalidades chegam a R$ 15 mil, Enrico compartilha sua rotina no TikTok, atraindo milhares de visualizações.

Foto: Redes Sociais

No retorno às aulas, decidiu presentear os colegas com bombons personalizados e bilhetinhos assinados por ele. \"Coloquei tudo na mala porque meu motorista já estava me esperando\", conta em um vídeo que ultrapassou 1 milhão de visualizações. Mas ele não é o único que viralizou ao expor um estilo de vida luxuoso. Outros estudantes também fazem sucesso nas redes ao exibir a rotina de quem viaja em carros conversíveis, usa bolsas de grife e frequenta festas badaladas.

A estudante Liria Máximo, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), compartilhou sua surpresa ao notar que várias colegas usavam bolsas Longchamp, marca francesa que custa entre R$ 1.200 e R$ 2.200. Já na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), vídeos do tipo \"arrume-se comigo\" são tendência, com alunas escolhendo sapatos e roupas de grife para o dia de aula. Valentina Oliveira, por exemplo, mostrou como estiliza os cabelos com um secador Dyson de R$ 2.600 antes de entrar no carro conversível do pai no primeiro dia de aula. Júlia Cardoso, aluna de publicidade, já fechou parcerias com marcas como Arezzo para exibir seus \"lookinhos\" acadêmicos.

Apesar dos elogios que recebe pessoalmente, Júlia enfrenta críticas nas redes sociais. \"Dizem que é desrespeitoso eu me arrumar tanto para a faculdade, que não vou para estudar. Mas sou criadora de conteúdo de moda e isso faz parte do meu trabalho\", justifica.

Na Link School of Business, onde a mensalidade ultrapassa R$ 14 mil, Liv Nakashima viralizou ao exibir um kit de boas-vindas contendo moletom, vouchers de almoço e uma garrafa térmica de R$ 300. \"A faculdade de vocês dá uma dessa? Tenho certeza de que não\", provocou em um vídeo. Já na São Leopoldo Mandic, calouros de odontologia ganharam iPads da 10ª geração, avaliados em cerca de R$ 3.500. Os seguidores, impressionados, fizeram comparações com suas próprias experiências. \"Minha faculdade só me dá dor de cabeça\", comentou um usuário.

Foto: Redes Sociais

Especialistas analisam o impacto emocional desse tipo de exposição. O psicólogo Alessandro Marimpietri alerta que idealizar esse estilo de vida pode gerar frustração. \"Para quem enfrenta dificuldades financeiras, pode parecer que o sucesso é só uma questão de esforço pessoal, o que não corresponde à realidade\", explica. Já a pesquisadora Andrea Jotta ressalta que assistir a esses conteúdos pode ser inofensivo para alguns, mas prejudicial para outros. \"Se o consumo dessas postagens gera angústia, ansiedade ou tristeza, é melhor evitá-las\", recomenda.

Os próprios influenciadores devem se questionar sobre os efeitos da constante exposição. \"Estou vivendo ou apenas mostrando minha vida?\" e \"Se meu post não fizer sucesso, como vou me sentir?\" são reflexões essenciais, segundo especialistas. A psicóloga Andrea Jotta destaca: \"Depender só da audiência para se sentir bem pode fragilizar a autoestima, tornando-a vulnerável às oscilações das redes sociais\".