Tabagismo é responsável por 80% das mortes por câncer de pulmão no Brasil, aponta estudo

Pesquisa da Fundação do Câncer revela impacto do tabagismo nas taxas de mortalidade e incidência de câncer de pulmão

Por Plox

16/05/2024 16h56 - Atualizado há 6 meses

Um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação do Câncer revelou que o tabagismo é responsável por 80% das mortes por câncer de pulmão entre homens e mulheres no Brasil. Esses dados foram apresentados na quinta-feira (16) durante o 48º encontro anual do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting (GRELL 2024) realizado na Suíça.

Foto: Reprodução/Pixabay 

O epidemiologista Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer, destacou que o objetivo do estudo é fornecer à sociedade informações que possibilitem ações preventivas. "O câncer de pulmão está diretamente relacionado ao hábito de fumar. Podemos afirmar que, tecnicamente, é o principal responsável pelos cânceres no mundo, especialmente no Brasil", declarou Scaff.

Cigarro eletrônico e riscos adicionais

Alfredo Scaff alertou que o cigarro eletrônico pode aumentar ainda mais o percentual de mortes por câncer de pulmão causadas pelo tabagismo. Ele destacou que o cigarro eletrônico introduz os jovens ao hábito de fumar, sendo a nicotina uma das drogas lícitas mais viciantes. "A ideia de usar cigarro eletrônico para parar de fumar é muito controversa, pois frequentemente leva ao vício de fumar", afirmou. Além disso, Scaff apontou que o cigarro eletrônico pode causar Evali, uma doença pulmonar grave e aguda, além do risco de explosão das baterias, que têm causado queimaduras severas em muitos usuários.

Impacto econômico do câncer de pulmão

Segundo o estudo, o câncer de pulmão gera gastos de aproximadamente R$ 9 bilhões anuais no Brasil, incluindo custos diretos com tratamentos, perda de produtividade e cuidados com pacientes. A indústria do tabaco, no entanto, cobre apenas 10% dos custos totais relacionados às doenças provocadas pelo tabagismo, que alcançam R$ 125 bilhões por ano.

"O tabagismo não causa apenas câncer de pulmão, mas também destrói os dentes, causa lesões de orofaringe, enfisema, hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio e AVC, entre outras doenças. Isso resulta em gastos significativos para o setor público e em perdas indiretas, como a produtividade e aposentadorias precoces", afirmou Scaff.

Projeções e dados regionais

Para 2024, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima a ocorrência de 14 mil casos de câncer de pulmão em mulheres e 18 mil em homens no Brasil. Dados da International Agency for Research on Cancer (IARC) analisados pela Fundação do Câncer indicam que, se o padrão atual de tabagismo continuar, haverá um aumento de mais de 65% na incidência e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, em comparação com 2022.

O estudo também revelou que muitos pacientes só buscam tratamento quando a doença já está em estágio avançado, tanto entre homens (63,1%) quanto entre mulheres (63,9%). Esse padrão é consistente em todas as regiões do Brasil.

Sul lidera em incidência e mortalidade

A Região Sul do Brasil apresenta a maior incidência de câncer de pulmão, com 24,14 novos casos por 100 mil homens e 15,54 novos casos por 100 mil mulheres, acima da média nacional de 12,73 casos para homens e 9,26 para mulheres. "Há uma relação cultural forte com o tabagismo no Sul, o que eleva o consumo de tabaco e, consequentemente, as doenças relacionadas, incluindo o câncer de pulmão", explicou Scaff.

No caso dos homens, apenas as regiões Norte (10,72) e Nordeste (11,26) ficam abaixo da média brasileira. Entre as mulheres, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste registram médias inferiores com 8,27, 8,46 e 8,92 casos por 100 mil pessoas, respectivamente.

O Sul também lidera em mortalidade entre homens em todas as faixas etárias: 0,36 óbitos por 100 mil habitantes até 39 anos, 16,03 entre 40 e 59 anos e 132,26 acima dos 60 anos. Entre as mulheres, a mortalidade é maior nas faixas de 40 a 59 anos (13,82 óbitos por 100 mil) e acima dos 60 anos (81,98 por 100 mil), ficando abaixo da média nacional (0,28) para mulheres com menos de 39 anos (0,26 por 100 mil), índice similar ao do Centro-Oeste.

Perfil dos pacientes e perspectivas

O estudo revelou que a maioria dos pacientes com câncer de pulmão tem nível fundamental de escolaridade, sendo 77% dos homens e 74% das mulheres. A faixa etária de 40 a 59 anos concentra o maior percentual de casos, com 74% dos homens e 65% das mulheres.

Apesar das taxas de incidência e mortalidade serem menores entre as mulheres, espera-se que a mortalidade por câncer de pulmão diminua entre aquelas com 55 anos ou menos a partir de 2026. Para mulheres com 75 anos ou mais, a mortalidade deve continuar aumentando até 2040.

 

 

 


 

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